MEYER FILHO

O artista plástico Ernesto Meyer Filho nasceu em Itajaí, estado de Santa Catarina/Brasil, em 4 de dezembro de 1919, vindo a residir em Florianópolis, capital de Santa Catarina, quatro anos depois. Autodidata, aprendeu sobre desenho, pintura, ilustração, história da arte e história natural através de manuais e livros sobre o assunto, uma vez que não havia escolas de arte em sua época em Florianópolis. No ano de 1946, época em que residia na cidade de Curitiba (Brasil) como funcionário do Banco do Brasil, decide seguir o desejo de ser artista, após visitar uma exposição de trabalhos modernistas feitos por artistas franceses. 

No final da década de 1940 o movimento de arte moderna acontecia na capital catarinense através de manifestações artísticas conduzidas pelo Círculo de Arte Moderna (CAM) e pelo Grupo Sul, do qual faziam parte escritores, poetas, pintores e cineastas, além do próprio artista Meyer Filho, que ingressou no Grupo Sul após seu retorno da cidade de Curitiba, no início dos anos 1950. 

O Grupo Sul propagava suas ideias através da “Revista “Sul”, da qual Meyer Filho era um dos ilustradores. Também neste período de efervescência cultural foi criado o Museu de Arte Moderna de Florianópolis (MAMF), em 1949, atual Museu de Arte de Santa Catarina (MASC).

Meyer Filho é referência no contexto da arte moderna catarinense, tendo sido um dos seus precursores. Realizou, em 1957, juntamente com o artista plástico Hassis (1926-2001), a primeira exposição de Pintura e Desenhos de Motivos Catarinenses. A mostra rompia com o academicismo e lançava perspectivas modernistas no contexto da arte no estado. 

Em sua trajetória artística e cultural, Meyer Filho promoveu o desenvolvimento de um circuito de arte local e nacional. Foi um dos fundadores do Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis – GAPF, tendo também organizado, em 1958 e 1959, os dois primeiros Salões de Arte Moderna de Santa Catarina, fora do estado. Em 1958, realizou a primeira individual de um artista catarinense no Museu de Arte Moderna de Florianópolis, atual Museu de Arte de Santa Catarina. 

Suas primeiras exposições no Rio de Janeiro, na Galeria Penguin, em 1960, no Museu de Arte de Belo Horizonte, em 1961, e na Casa do Artista Plástico, em 1963 e 1964, receberam críticas entusiásticas, publicadas na Folha de S.Paulo, Revista Habitat e na Revista Módulo, os periódicos mais importantes da época, com textos de Flávio de Aquino e Theon Spanudis.

Sua atuação no contexto cultural incluía a criação de charges e a escrita de crônicas que foram publicadas em jornais catarinenses entre os anos 1940 e 1980, em especial no Jornal O Estado, ocasião em que o artista refletia sobre arte, cultura e cidadania, tendo sido um observador crítico, mas não menos humorado de acontecimentos sociais e políticos, locais e mundiais. 

 O acervo deixado pelo artista reúne a produção de cinco décadas de atuação de Meyer Filho. Ao longo de sua trajetória, teve o cuidado de guardar desenhos e pinturas representativas de seu percurso criativo, complementadas com um vasto conjunto de recortes de jornais e revistas, correspondências, escritos, manuscritos, anotações, charges, catálogos, fotografias e convites de exposições, dentre outros documentos, todos relativos à produção artística e cultural de 1940 até o seu falecimento, em 1991. Os documentos se encontram salvaguardados na reserva técnica do Instituto Meyer Filho.  

O acervo acumulado durante as décadas de 1940 a 1980 foi nomeado pelo artista como “Arquivos Implacáveis de Meyer Filho” e revela acontecimentos relativos às suas estratégias de atuação fora do eixo hegemônico das artes de sua época, bem como guarda importantes fatos da memória do movimento artístico de Santa Catarina, especificamente do surgimento da arte moderna. Meyer Filho costumava arquivar o acervo registrando comentários e testemunhos pessoais através de desenhos e escritos em forma de crônicas e diário aberto, nomeados pelo artista de “croniquetas”, cujo conteúdo revela o seu olhar singular sobre fatos relacionados à arte e cultura catarinense e nacional, bem como ao cotidiano da cidade de Florianópolis. A potência imagética de suas pinturas e desenhos não está dissociada das autobiografias e anotações perspicazes em documentos e obras, das entrevistas concedidas por ele aos veículos de comunicação, da sua vida pessoal e de bancário, dos quintais e viveiros organizados como espaços de criação, bem como dos relatos sobre suas viagens a Marte. 

Meyer Filho conciliou a carreira de artista com a de bancário, tendo sido funcionário de um banco federal por “30 anos e 61 dias, e sem nenhuma falta ao serviço e nem úlcera no estômago”, como costumava comentar. Participou de exposições individuais e coletivas em Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, além de Argentina e França. Possui obras em Museus de Arte de Florianópolis, Belo Horizonte, Joinville, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo e coleções particulares no Brasil e no exterior. O artista faleceu em 22 de junho de 1991, em Florianópolis. 

Em 2004 foi criado o Instituto Meyer Filho, associação civil sem fins econômicos. Além da organização e divulgação do acervo e legado do artista plástico Meyer Filho, o Instituto tem como finalidade o desenvolvimento e valorização do patrimônio cultural-histórico e artístico de Santa Catarina nas suas variadas expressões.

Em 2019, ano que marcou o centenário de nascimento do artista, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina agraciou Meyer Filho (in memoriam) com a Comenda do Legislativo, homenagem aos catarinenses que contribuíram para o desenvolvimento social e cultural do estado.

A Galeria Ernesto Meyer Filho está localizada no hall de entrada do Palácio Barriga Verde. A Assembleia Legislativa de Santa Catarina homenageia o artista por meio da Resolução 48/1999, nomeando o espaço destinado a exposições com o seu nome.

Desde 25 de novembro de 2004 o Instituto Meyer Filho conta com espaço para exposição do acervo do artista, o Memorial Meyer Filho, através de acordo de Cooperação Cultural firmado entre a Prefeitura Municipal de Florianópolis, Fundação Franklin Cascaes e Instituto Meyer Filho. O Memorial, concebido em homenagem ao artista, está localizado no Centro Cultural de Florianópolis, no número 180 da Praça XV de Novembro, esquina com a rua Tiradentes, no centro da capital catarinense. Além de um lugar que preserva a memória de Meyer Filho, abriga mostras e demais eventos, tanto do campo das artes visuais quanto das artes cênicas.

Desde dezembro de 2021 a obra de Meyer Filho ganhou acesso irrestrito para os que vivem e visitam a Ilha de Santa Catarina. A mais recente homenagem ao artista, o mural O Baile Místico de Meyer Filho, está localizado na empena leste do Edifício Florêncio Costa, mais conhecido como Edificio Comasa, situado à Rua Felipe Schmidt, 58, no centro de Florianópolis. A iniciativa foi do 2º Grande Baile Místico da Ilha de Santa Catarina, vinculado ao Outubro Místico, que em sua segunda edição teve como tema os 100 anos do artista plástico. A arte pública do mural, com dimensão de 33 x 8 metros, é assinada pelo artista Rodrigo Rizo, com assistência de Tuane Ferreira e produção de Victor Moraes Heyde. O painel sobre Meyer Filho está próximo a três outros painéis de nomes representativos da arte, história, ensino e literatura catarinenses já existentes no centro da cidade, a saber: Franklin Cascaes, Antonieta de Barros e Cruz e Sousa. 

A trajetória de Meyer Filho está documentada em filmes, livros e pesquisas. Para conhecê-los, acesse a midiateca.